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A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO VI

Agora, porém Clara não poderia voltar atrás, nem abandonar o estrangeiro à própria sorte, além do que estava comprometida até a raiz dos cabelos.   No momento em que decidira ocultá-lo das autoridades, tornava-se cúmplice de qualquer ato ilícito que ele houvesse praticado, além de ferir a ética profissional. Ela arriscara o seu emprego que a habilitava a prosseguir os estudos e manter a situação financeira regular que possuía.   Clara estava preocupada, quando o viu aparecer na porta do gabinete. Teve a estranha sensação de reconhecer nele uma pessoa conhecida, como se fosse um de seus pares, um colega da faculdade, um companheiro de infância. Mas havia algo singular : o sorriso franco, o olhar penetrante, o gesto afetuoso de quem pede ajuda e reconhece com gratidão.  Via nele uma alma instigante, mais do que um homem que agora lhe parecia bonito, vestido naquelas roupas emprestadas, no blusão que comprara, inclusive os sapatos esportivos, que sem dúvida, ficaram enormes em seu

Uma bomba e a aeromoça gaúcha

Meu amigo tinha por hábito externar qualquer pequeno problema que o acometesse. Às vezes, um mudança abrupta no seu estado psíquico, como uma melancolia, uma vontade de afastar-se de onde estava ou simplesmente um pequeno ruído que o incomodava. Via de regra, sabíamos que reagia com certo exagero às circunstâncias, mas respeitávamos o seu modo de ser e procurávamos conciliar seus pequenos desajustes aos nossos interesses.   Naquele dia, porém a coisa fora diferente. Estávamos reunidos no aeroporto para seguirmos à Brasília para um curso relâmpago de três dias. Éramos em torno de 30 pessoas e comemorávamos a ideia de projetar o nosso trabalho de marketing para a instituição em que trabalhávamos.   Ao entrarmos no avião, fomos para nossos acentos e conversamos animados com a possibilidade de ainda chegarmos cedo à cidade para quem sabe, irmos num bom restaurante após a chegada no hotel e nos prepararmos para o dia seguinte que seria bem puxado.  Meu amigo Júlio (era se

"A barca e a biblioteca" na Editora Metamorfose

A barca e a biblioteca na Editora Metamorfose A barca e a biblioteca é uma ficção que narra a trajetória de um homem que aos poucos descobre a verdadeira história de seu pai, morto nos tempos da Ditadura Militar Brasileira. Tudo começa nos anos 60, quando César, ainda menino, vive entre a fantasia de aventurar-se na barca à beira do cais e seus livros. Já na fase adulta, César é um bibliotecário que se vê envolvido em uma trama perigosa, com novos crimes, velhos fantasmas e duas histórias que se entrecruzam. Um romance de fôlego, envolvente e que foge dos clichês da representação da ditadura, mostrando sutis e cotidianas repressões.  Ficha técnica Autor: Gilson Corrêa Nº de páginas: 280 Gênero: Narrativa longa

A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO V

CAPÍTULO V Quando o celular tocou, Clara não conseguia entender onde estava. Dormira durante tanto tempo que poderia ser qualquer hora do dia ou da noite. Então, pegou o celular que estava sobre a mesinha de cabeceira e atendeu, desligando-o em seguida, percebendo tratar-se de uma mensagem da operadora. Levantou-se, doída, sentindo as pernas bambas, como resultado de um esforço extremo. Ouviu ruídos lá fora, um galho de árvore que insistia em roçar a lateral do prédio, agitado pelo vento. Cães latiam ao longe. Voltou ao celular, desta vez para certificar-se das horas. O entardecer de inverno se despedia rápido. Anoitecia no mesmo compasso. Passava das seis. Espiou pelas frestas das venezianas e observou as luzes da rua. Procurou os óculos sobre o baú, limitando pela mão os espaços mais prováveis onde os teria deixado, talvez entre livros e revistas, ali esquecidos. Enfiou-os sobre o nariz, ajeitando-os com o polegar e como por encanto, o presente voltou à tona, com as