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A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - 19º CAPÍTULO

Capítulo 19 Rosa depõe na polícia e confessa que tentara matar Ana porque achava que ela sabia que Paulo usara o carro do médico na noite do crime. Para o delegado Borba, não há mais dúvidas de que o rapaz é o verdadeiro assassino de Taís, já que foi comprovado de que ele estava no local do crime e Rosa praticamente o acusou, na tentativa de defendê-lo. Parece enfim, que todas as peças se encaixam e que o verdadeiro culpado é mesmo o mecânico. Afinal, ele era namorado de Taís, tinha muitos ciúmes e segundo a própria Rosa, certa vez, ele a tinha ameaçado de morte, após uma briga calorosa. Com o passar do tempo, no entanto, as coisas haviam se acalmado e cada um do seu lado, foi tocando a própria vida. O problema, segundo Rosa, é que ele a havia encontrado algumas vezes e Taís, leviana que era, estava novamente tendo um caso com o antigo namorado. Ela era muito ligada ao o grupo de Ana, onde conseguia as drogas que utilizava, embora a menina mais jovem fosse a mais arisca e nã

OS DEZ TEXTOS MAIS LIDOS NO MÊS DE JULHO/2016

1º - O cofre e as moedas 2º - A identidade subjetiva, a alteridade e as diferenças 3º - Um crime na cidade que sabia demais 4º - Morte lenta 5º - Moedas nas frestas 6º - Momentos e encontros 7º - Iolanda 8º- Por que temer a travessia? 9º - Metáforas cruéis: desqualificação das mulheres e negros 10º - A varsóvia que vi: suas peculiaridades, beleza, modernidade

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - CAPÍTULO 18

Capítulo 18 Naquela noite, Júlio Ramirez não conseguia dormir. A cidade natal que cultivava em sua memória como um sonho de paz e felicidade se revelava um aglomerado de pessoas estranhas, com princípios totalmente diferentes dos seus. Nada era como imaginara, ao pensar até em voltar a morar ali. Entretanto, este tempo estava sendo de uma aprendizagem do ser humano, especialmente para o seu livro, que além de uma biografia, provavelmente seria um estudo sociológico. Havia muito a contar sobre àquela gente que costumava ser tão polida e ao mesmo tempo com segredos inconfessáveis. Provavelmente, eram iguais a todo o mundo, só que ali, o caldo cultural era muito expressivo, juntando todos com características muito peculiares. Estava assim pensativo, quando tocou o celular quase ao seu ouvido e estremeceu, assustado. Estava ficando velho, pensou, qualquer ruído bastava para deixá-lo em estado de alerta. Devia ser uma mensagem qualquer, dessas de publicidade que acabam com a paz de c

Alfredo Martins: o homem ideal e as várias formas de amar

Todas as noites Alfredo Martins fechava a porta de ferro do velho cartório, sempre de maneira metódica, puxando-a devagar para não desengatar o trilho e agachando-se enquanto trazia até o chão, para finalmente engatilhar o trinco e o cadeado ao mesmo tempo. Era de praxe. Era o modelo deixado por seu pai. Era o correto. Alfredo Martins era na vida pessoal, como agia em seu trabalho: um tabelião responsável e rígido. Tinha a pontualidade e a responsabilidade no trabalho como modelo indispensável para uma integridade ética e moral em suas relações profissionais. Casado, sem filhos e afeito a servir à comunidade através de missões filantrópicas de forte poder ético, o abonavam como um homem de qualidade familiar e social. Religioso e pacato em sua vida particular, Alfredo Martins tinha um único único hobbie, que era a pesca e o fazia apenas acompanhado da esposa, porque considerava de bom tom experienciar também os prazeres como um casal. Naquela manhã porém, Alfredo Martins sent

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - CAPÍTULO 17

No capítulo anterior o detetive Júlio Ramirez encontrou-se com o delegado Borba. A partir dessa conversa, teve novos planos e num encontro com o seu amigo Jairo, um madereiro que estava trocando de negócios, com a intenção de instalar um camping na cidade, decide falar sobre os suspeitos. Capítulo 17 Júlio encontra o amigo Jairo no bar. Tomam uma cerveja e recordam os velhos tempos. Em seguida porém, o tema passa a ser os crimes não solucionados na cidade. Jairo pergunta a quanto anda a investigação do detetive. — Bom, meu amigo, a passo de tartaruga, como tudo nessa cidade. Mas acho que estou no caminho certo. — E o que se passou com o delegado? — Como sabe que estive lá? — Marília me contou. Ela viu quando você se dirigiu à delegacia. — Aquela moça fala demais, não acha? — Sabe de uma coisa, Júlio? Eu ouço e fico calado. Deixo que as pessoas expressem os seus sentimentos, as suas curiosidades e vou sabendo de tudo. É uma boa tática, acredito eu. —Tenho certeza

UM CRIME NA CIDADE QUE SABIA DEMAIS - CAPÍTULO 16

Capítulo 16 Júlio sentou-se na poltrona e observou que as paredes de certo modo revelavam uma falência inevitável no sistema carcereiro da cidade. Era como se ali houvesse o registro do abandono pelo Estado pelo sistema policial: no próprio prédio, havia pichações de todo o tipo, além de profundas deteriorações nas paredes internas, com o surgimento dos tijolos sob o reboco frágil. Na poltrona, cortes de canivete, nos quais inevitavelmente afundava os dedos. Estava assim pensativo, quando o Delegado Borba surgiu, fechando com firmeza a porta. Júlio voltou-se com o olhar perplexo. O outro sorriu e comentou, irônico: — Detetive Júlio, para um homem da lei está se portando como um medroso. Não devia se assustar assim com a minha chegada. Júlio levantou-se e apertou-lhe a mão, confiante. — Não estou assustado, delegado. Só estava aqui, mergulhado nos meus pensamentos. O delegado discursava, enquanto ajustava a cadeira para sentar-se atrás da escrivaninha. — Quem pensa muito nã

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - 16º CAPÍTULO

No capítulo 14, percebemos que Ricardo abriu-se com Raul, na tentativa de saber alguma coisa sobre o crime que o acusavam. Raul comentara sobre o grupo de jovens que costumava fazer luais à beira do rio, nos quais havia envolvimento de drogas e sexo. Entre eles, estava Taís, a jovem que sentia-se atraída por Ricardo a ponto de assediá-lo e para seu azar, sendo assassinada. Quem seria o culpado ou os culpados por tal crime? O grupo de jovens, dos quais fazia parte Carlos, o filho do prefeito que organizava as festas? Ou os quatro jovens juntos, numa noite de loucura regada à bebida e drogas? Ou seria mesmo o médico, que lutava para ficar ileso? Também havia o antigo namorado da moça, o mecânico Paulo que tinha muito ciúme por ela. E Rosa, que papel teria nesta trama toda? A seguir o 15º capítulo de nosso folhetim policial.Divirtam-se. Capítulo 16 Júlio sentou-se na poltrona e observou que as paredes de certo modo revelavam uma falência inevitável no sistema carcereiro da cidade.

A alteridade no romance “O filho eterno” de Cristóvão Tezza

Muito se tem falado sobre o romance “O filho eterno” de Cristóvão Tezza, inclusive o livro virará filme em 2017. Há centenas de predicados e muitas considerações críticas favoráveis ao romance, o que sem dúvida condiz com a reconhecida qualidade literária do autor. Numa publicação anterior dissertei um pouco sobre o conceito de identidade e alteridade, por isso gostaria de fazer uma relação do conceito da alteridade que se percebe no relacionamento do protagonista com o filho e consigo próprio. Este fato remete à identidade e à alteridade, no sentido do protagonista (o próprio escritor) ver no outro (o filho) o desfecho de uma perspectiva que não aconteceu, em virtude da Síndrome de Down. “O filho eterno” de Cristóvão Tezza seria o encontro do homem consigo, na perspectiva de ser pai e criador de sua própria tessitura literária, mas a trama revela num primeiro momento o desencontro de um pai que tem o filho com Síndrome de Down. Com o decorrer da narrativa, fica claro

A identidade subjetiva, a alteridade e as diferenças

Na obra “A escada dos fundos da filosofia", do filósofo Wilhelm Weischedel, observa-se que o autor apresenta a ideia do outro como fundamental para se chegar a uma concepção dos direitos humanos. Ao pousar o olhar no tu, no outro, o homem incorpora o pensamento de que precisa do outro para sobreviver como ser humano, adquirindo assim um contexto de pluralismo das identidades. A isso chama-se alteridade, afastar-se do pensamento antigo da subjetividade, do eu, e amparar-se à ação pessoal no outro. A concepção da filosofia ocidental sobre a identidade, a expressão subjetiva do eu, descuidado-se da importância do outro, revela uma falta de sentido, à proporção de que homem em grande parte de sua vida, depende do outro para sobreviver. Freud reiterava este desamparo radical que ocorre desde que o homem nasce, cuja sobrevida depende deste reconhecimento no outro e pelo outro. Tanto Freud, como Heidegger e outros tantos filósofos ratificam este conceito. Pela definição d

MORTE LENTA

Cai a noite. Por certo, os meteorologistas se preparam para as últimas informações sobre o clima. Nada do que palmilhar os mapas da mente e descobrir o clima interior, este tão próprio, tão intimo, tão vulnerável. Pudera seguir o caleidoscópio da paixão. Sentir o calor que se abrasa em meu ser frágil. Pudera ver as novas vertentes das cores que se abrem, misturadas às múltiplas facetas do mundo que se explora. Mas está frio aqui dentro. Lá fora também. A noite é intolerável. A noite é uma mulher má, austera, fria. Sem consolo. Nem lágrimas derretem seu coração. Meu coração, certamente se derrete mais no gelo do que no calor. Mais um dia, ou melhor, uma noite, em que me coração ficará sozinho, disforme no sofá rasgado da sala. Por que não tenho um gato para se aninhar nos meus pés e aquecer meus tornozelos? Um gato submisso, que me espia atrás da poltrona, enlaça seu rabo de leve no pé da mesa e passeia pela sala ao meu encontro. Não, não tenho gato. Não gosto de gatos, ne

IOLANDA

Fonte da ilustração: Aravind kumar, do site https://pixabay.com Iolanda desceu as escadas lentamente. Na rua, um silêncio absurdo parecia isolar a praça do resto do mundo. Espiou pela porta do prédio e viu o ambiente amplo, completamente vazio. Sombras de árvores deitavam em bancos de pedra. Alguns caminhos irregulares. Afastou a porta devagar, deslocando-se em ritmo lento pela calçada. Estava sôfrega. Um cansaço parecia acumular-se nos ombros. Aflita dirigiu-se à praça, atravessando a avenida deserta. Que horas seriam? Mais de 3 horas num numa madrugada qualquer da semana, sem qualquer possibilidade de movimento. Um cão ladrava ao longe e uma pequena brisa começava a sacudir as folhas das árvores. Olhou para o alto. A lua desaparecia lenta, por entre nuvens e o céu tomava um negrume extraordinário. Se não fossem as luzes da cidade, tudo estaria numa escuridão total. Decidiu sentar-se e a madeira do banco martirizava a sua coluna. Mexia o corpo para frente, de vez enquanto par

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - 14º CAPÍTULO

No capítulo 13, Júlio refletia sobre a personalidade de Rosa, que em poucos dias, conhecera como uma mulher com traços distintos, de acordo com a situação. Se havia alguém mais estranho naquela cidade, era a maestrina, pois um dia era uma pessoa cordata, tranquila, atendendo o pessoal do hotel com esmero e cuidado, bem como, segundo diziam, uma regente do coral com muito talento.Noutro, era uma mulher assustada e ao mesmo tempo indignada, mostrando-se rancorosa e com muitos segredos. Talvez ela estivesse assustada não pelos crimes, que segundo dissera a afetavam profundamente, em virtude de algumas pessoas terem sido assassinadas por um criminoso que ingetava insulina em pessoas saudáveis. Talvez o outro crime fosse a causa de sua aflição, em virtude da presumível implicação de seu protegido. A partir de agora, publicamos o capítulo 14 de nosso folhetim policial. Capítulo 14 Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/bar-bebidas-álcool-geladeira-926256/ Ricardo dirigia-se ao