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O destino do homem?

Na fábula, o sapo foi terrivelmente traído pelo nefasto escorpião, ao ser transportado pelo rio. Ao ser ferroado, o sapo pergunta, na agonia da morte, por que o escorpião fez aquilo, se assim os dois morreriam afogados, visto que somente ele sabia nadar. O escorpião, então responde que é esta é sua natureza. Observando as pessoas e fatos, fico me perguntando, o que leva certas pessoas a trair, a enganar, mesmo quando são acarinhadas em suas relações. E logo, me vem a resposta do escorpião da fábula: é de sua natureza. Seria este o destino do homem, seria esta a sua natureza, a de trair, de mentir, de enganar despudoradamente, mesmo que não haja qualquer ganho?

O DOCE BORDADO AZUL - 20º CAPÍTULO

Hoje é quinta-feira. Nosso folhetim continua com o 20º capítulo. Na próxima terça, continuamos na sequência. Espero que gostem! Capítulo XX Os caminhos de Bárbara Bárbara procura por um ponto de táxi, mas parece que tudo fica muito longe naquela rua. Se ao menos tivesse ficado com o telefone do taxista que a trouxera, a estas horas já estaria a caminho de casa. Avista um grupo de pessoas, cujo objetivo provável é esperar algum coletivo, embora não haja nenhuma placa que indique um ponto. Aproxima-se de uma senhora e pergunta se há alguma linha nas redondezas e qual é o destino. Informada de que o fim da linha é a parte velha da cidade, fica aliviada, pois é onde se situa o seu apartamento. Pelo menos, se afastará daquele bairro e pretende não encontrar Lúcia e Laura jamais. A dose já foi alta demais para um só dia. No ônibus, sente-se confortável olhando pela janela. Já não vê a cidade em que se encontra, mas em Minsk, bem longe, onde por algum tempo foi muito feliz. V

O DOCE BORDADO AZUL - 19º CAPÍTULO

Hoje é terça-feira. Nosso folhetim continua, hoje apresentando o capítulo 19. Na quinta, prosseguirá em sequência. Capítulo XIX A surpresa de Bárbara Bárbara desceu do táxi e caminhou pela rua estreita, procurando num pedaço de papel o endereço correto. Percebeu que o número não coincidia com o do prédio. Não tinha muita certeza de que estava no local certo, mas precisava seguir em frente, mesmo que para isso, fosse necessário caminhar, bater em portas, fazer perguntas. Por um momento, teve a sensação que estava nas ruas de Minsk, nas vilas densamente povoadas dos povos oriundos da Rússia e de imigrantes, como ela, que constituíam uma população tão eclética. Então, estremeceu. As mãos ficaram úmidas, os dedos engendraram pequenos movimentos dentro do bolso do casaco, nervosos. Precisava reagir, tentava convencer-se. Não era um tempo de boas lembranças, mas não podia ficar remoendo o passado, a tragédia que havia sido a sua vida. Também não sabia bem o motivo de procurar u

O elo do encontro

Tento prestar atenção em cores, janelas, platibandas, casas antigas restauradas ou em ruínas. Memórias que ficam ou apenas o passado depojado de sua história. Na história que produzimos, talvez as memórias não resistam ao próximo bafejo da moda. Ando pelas ruas e observo as casas e pessoas na sala de jantar ocupadas em nascer e morrer, como no Panis Et Circenses dos Mutantes. Na verdade, agora ocupadas em revelar no intervalo, a vida que vaza rápido pelas entranhas das vidraças. Vidraças das redes sociais, das fotos instantâneas, dos vídeos do celular, dos olhares importunos. Um selfie a qualquer custo, na vida ou na morte. Importa é revelar. Ando pelas ruas e vejo as crianças metidas em carros blindados, perdidas nos tablets, em joguinhos não tão inocentes. Ando pelas ruas e observo os meninos já não tão meninos, fazendo o próprio jogo de polícia e bandido, armando-se na aprendizagem cotidiana de seus pares não tão parceiros assim. Ando pelas ruas e vejo o mar se abrindo n

O DOCE BORDADO AZUL - 18º CAPÍTULO

Nosso folhetim como se fazia no século XIX, nos jornais brasileiros, continua em todas as terças e quintas, na sequência dos capítulos. Hoje, como é quinta-feira, senhoras e senhoritas, e também senhores, apresentamos mais um capítulo. Capítulo XVIII A ajuda Lúcia acordou pressentindo uma coisa líquida e pegajosa aproximando-se do quarto. Mal percebia as luzes da persiana, que se estendiam sobre a cama e abriu os olhos vigorosamente. Devia tratar-se de um pesadelo, desses de deixar a gente aterrorizada, percebendo sons inexistentes, ruídos aterradores, águas poluídas que fundem o corpo e a alma, numa afogamento fétido. Arbustos gigantescos, algas que se alinhavam ao corpo, como agulhas cerzindo o tecido. A mãe empunhando a agulha como arma cheia de veneno, instilando na pele, espalhando pelos dentes, amortecendo a gengiva. Doía-lhe o ouvido, o maxilar, a boca. Sentia um peso enorme na cabeça, como se carregasse pedra e aquela impressão da água suja se aproximando do q

O DOCE BORDADO AZUL - 17º CAPÍTULO

Nosso folhetim como se fazia no século XIX, nos jornais brasileiros, continua em todas as terças e quintas, na sequência dos capítulos. Hoje, como é terça-feira, apresentamos mais um capítulo. Capítulo XVII O amor de Laura Laura ouviu a filha afastar-se para o quarto. Foi até o canto da sala e a avistou: assim magra, esquálida, olhos inchados. Ela havia chorado. Mas que podia fazer se era assim, tão suscetível. Por que se preocupava tanto com a morte? Por que temia a morte? Na verdade, Lúcia sempre fora uma menina assustada, com medos estranhos, terrores do desconhecido, e a morte para ela, nada mais era do que o enfrentamento do ritual. O que sempre a assustou foi todo o ritual do velório, da palidez do cadáver, dos cantos fúnebres, da missa de corpo presente. Isso que a assustava, também causava-lhe certa curiosidade, que não conseguia evitar. Sabia que no fundo, havia um certo prazer com a morte e esse frisson a deixava em pânico. Não suportava alegrar-se com o ritual, conce

PRESSÁGIO

Colocou o notebook no colo e abriu, afoito, os e-mails, imaginando que pelo menos, naquela situação,  haveria alguma resposta. Era tardia, sabia, mas tinha de haver, tinha que acreditar, um último fio de esperança. Abriu e o que viu era a rotina de spans de sempre, cadastros mal elaborados, informações do trabalho. E nada dela. Nada de sua conduta marcada pelos tons nevrálgicos das discussões inacabadas. Nada que valesse à pena esperar. Abriu uma página, duas, assustou-se com o imenso número de pessoas participando de chats àquela hora da tarde. Espiou um, bisbilhotou nas mensagens e arrepiou-se com o que viu. Sentia-se perdido no mundo de ilusões que criara desde a infância. O barulho ensurdecedor do metrô abafou seus pensamentos. Milhares de pessoas corriam para a plataforma, filas se formavam e ele oculto dentro de si mesmo, olhando para o nada, esperando quem sabe, ser assaltado naquele terminal repleto de mal intencionados. Um homem o olhava de soslaio, desconfiado, examin

O DOCE BORDADO AZUL - 16º CAPÍTULO

Todas as terças-feiras e quintas publicarei capítulos em sequência do romance "O doce bordado azul". A seguir o 16º capítulo. Capítulo XVI A surpresa Lúcia levantou-se acabrunhada. Os cabelos em completo desalinho, a cara amassada, olhos inchados. Quem a visse naquele momento, imaginaria uma imensa ressaca. Mas sua fisionomia refletia o seu espírito desordenado com as situações criadas. E agora, a mãe viera com esta história do vizinho que conhecera, chegando ferido em seua casa e ainda ajudando-o. Bem, como dissera, ela sempre tinha explicações para tudo. Que fosse então. Olhou para fora, empurrando levemente a cortina, temendo ser observada por alguém. A tarde caía rapidamente. Nada melhor do que a noite para refazer-se. A tarde sempre trazia consigo uma sensação de modorra, mormacenta, que lhe causava tédio. Nunca gostara de estudar à tarde. Sentia-se cansada, sonolenta. A noite, ao contrário, enchia-a de energia ao espírito. Sentia-se mais resistente, mai

A primavera e a Academia Rio-grandina de Letras

Antes de iniciar a primavera, apavorado com o inverno, ousei fazer alguns versos o que chamei de poesia. Utilizando a mulher como a metáfora de primavera, eu a suplicava junto a mim, ouriçando-me os cabelos, guerreira e forte e superando o inverno que não acabava. Hoje, porém, tive a primavera bem próxima. E não foram os ventos que a trouxeram, talvez a temperatura suave acalentada pelo sol esparso sobre as árvores. Pois revelou-se com o encontro. Um encontro inédito e espontâneo, que se deu, a partir da sessão da Academia que se desenvolveu sob as árvores da praça Xavier, na falta da chave da biblioteca. Ali, nos expomos em nossas atitudes mais despojadas, sem didatismos ou preocupações formais. A ordem foi invertida, a lírica, a literatura e a harmonia dos textos chegou antes das atividades administrativas. Até mesmo o tradicional chá com salgadinhos e doces, alternou-se com a poesia. Senti o bafejo da primavera, bem perto, junto com meus colegas, perfazendo um círculo em que