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EMBLEMA DA MORTE EM VIDA

O conto a seguir, Emblema da morte em vida , foi publicado na Antologia Metamorfoses, como um desafio de se criar um diálogo intertextual com Kafka reescrevendo a frase inicial de sua novela Metamorfose "Quando certa manhã, Gregor Sansa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso". O meu conto está na páginas 53-57 da antologia, que está à venda no site da editora: www.editorametamorfose.com.br. Quando certa manhã Lauro Sampaio acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num cadáver. Tinha consigo que a vida passava rasante ante seus olhos, mas não argumentava. Percebia as olheiras do médico de plantão e as enfermeiras que ciscavam em suas roupas disformes. Ouvia as vozes de raspão. Ora sumiam e um peso terrível abalroava suas pernas. Afinal, onde estava? No hospital? Sentia-se aprisionado em seu corpo, mas ouvia o que diziam. Uma das enfermeiras enfiou-lhe um tubo na boca. Tudo parecia em diapa

A CASA OBLÍQUA - CAP. XXI

Nosso folhetim prossegue hoje com o vigésimo primeiro capítulo. No capítulo anterior, Clara ajudou Nael a voltar ao apartamento, após esconder-se no parapeito da janela, fugindo dos policiais que investigavam a pedido da própria Clara, segundo eles, pois o telefonema partira dali. Clara tornava-se a cada dia mais estranha, confundindo Nael com o seu comportamento. Após este incidente, Nael pretendia afastar-se e tentar sobreviver até acertar a sua regulamentação no país. Clara e Nael ficaram algum tempo conversando. Nael planejava partir. Não havia saída para os dois, a não ser o afastamento imediato. A situação tomava um rumo cada vez mais difícil. Clara, vez que outra concordava, mas ao mesmo tempo, sentia-se só, antecipando uma melancolia indesejável. Quase não o ouvia, perdida que estava em elucubrações. De repente, fitou-o de um modo tão singular, que ele estranhou e indagou o que havia acontecido. Ela descansou o queixo, com os cotovelos sobre a mesa, por alguns segundos, r

A CASA OBLÍQUA - CAP. XVIV

Clara acordou ainda recordando a visita à Dona Luisa. Tinha a impressão de vê-la assim, tão próxima, que a imagem ficava na retina e custava a dissipar-se. Mas agora, devia tomar suas providências. Assumir o que de fato lhe pertencia: o apartamento ao lado. Não deixaria que o tomassem, principalmente pessoas que nunca a procuraram, que nunca se importaram com a sua vida. Muito menos, Cida, uma sem-teto, que agora cismava em surgir à janela, desafiando-a. Levantou-se com uma tontura que a atingia e a deixava sem tino, como se desconhecesse os caminhos de sua casa. Esforçou-se em tomar um banho rápido para acordar-se de vez. Antes de despir-se, Clara ainda avistou os livros atirados no chão, cópias de artigos espalhadas e a monografia por fazer. Sentiu um empuxo como se aquela visão a obrigasse a retornar à realidade. Foi só um segundo. Deu de ombros, desleixada. Passou pelos objetos, chutando-os, como se os retirasse para sempre de sua vida. Avançou para o banheiro e organizou

A fotografia da vida de Santa - CAP. 26

Sábado, 10/12/16 - Em breve o final deste folhetim dramático. Capítulo 26 Após o enterro de Fernando, Linda voltou para a casa e trancou-se em seu quarto. Apesar de todas as desconfianças e presumíveis ameaças da empregada, Santa estava penalizada com o seu estado de sofrimento. Tentou ser solidária embora Linda se mantivesse reticente. Santa também estava desolada pelo fato de Alfredo estar preso. Tudo parecia voltar-se contra a sua família e não havia nada que pudesse fazer. Então teve a ideia de fazer uma nova reunião, já que não havia conseguido unir a família pela missão que acreditava ter que cumprir, a uniria pela salvação do filho. Aos poucos, todos foram chegando. Sandoval aguardava ansioso e transtornado pelos últimos acontecimentos. Letícia e Ricardo foram os primeiros a chegar. Tavinho desceu do carro, em seguida, incomodado por mais uma convocação da mãe, que achava que poderia resolver tudo ao seu modo. Entrou na casa e foi na direção da biblioteca, mal hum

Um quarto na tarde

Este é um conto elaborado a partir do desafio de uma oficina literária. O desafio seria utilizar um personagem semelhante à Séverine do filme “Belle de jour”, A bela da tarde. Talvez estivesse assim abandonada, assim alijada de seus momentos de liberdade absoluta, onde não houvesse ninguém para atrapalhar seus planos. Quem sabe numa ilha deserta, mar aberto, longe de qualquer civilização. Que nada, estava estirada na cama, envolta em cobertas amassadas, mascando o travor da vida que se esvaía, no colchão inchado. A revolta tomava conta de seu ser. O ódio talvez endereçado a si própria deixava distantes os que a atormentavam. Estava assim, desorientada, embrulhada em seus pensamentos, como aquelas cobertas nas quais se descobriam os pés. O frio vinha menos das frestas das venezianas, sem vidraças do que o que a consumia por dentro. Ela levantou com esforço, espiou para fora: um olhar conturbado, aranhas tecendo redes turvas nas frestas. Ah, se pudesse desfrutar o ar poluído d

A fotografia da vida de Santa - CAP. 18

Nosso folhetim dramático encaminha-se para os últimos capítulos. A seguir o capítulo 18, mas logo, logo chegaremos ao desfecho final. Capítulo 18 As cores estavam esmaecidas. Paredes descascadas, velhas. Quando ele entrou e avistou a cena melancólica sentiu as pernas estremecerem e um rubor estranho percorrer-lhe o rosto. Aquele cheiro de coisa velha, mofada, o ar sofrido que o envolvia. Deu meia volta, pensando em fugir, mas desistiu. Parou na porta, segurando o marco, talvez para evitar afastar-se de vez. Seus olhos estavam perdidos. Não queria ver aquela coisa dissoluta que se transformara a sua casa. A sua vida, o seu passado. Entrou devagar atravessando a sala em direção ao corredor que desembocava numa área que outrora fora verde. Quem sabe, respiraria melhor, ali. Seu coração estava agitado. Suas mãos suavam. Procurou por alguma coisa no quarto. Sim, o quarto, antes de chegar a área. Era o seu quarto. Aproximou-se da cama, deitou-se e ficou olhando para o teto

A CIDADE QUE SABIA DEMAIS - 5º CAPÍTULO

Capítulo 5 Rosa investigava distraída o celular, quando Ricardo deu uma pequena batidinha no balcão. Ela assustou-se e pediu desculpas pela displicência. — Não se preocupe dona Rosa. É que estou com um pouco de pressa, esqueci uns documentos no quarto e preciso sair rapidamente. — Ah, sim. Já lhe dou a chave. Doutor, gostaria de participar do nosso coral da igreja? Olhe, não precisa ser cantor, basta ter boa vontade. — Dona Rosa, além de eu não ter o mínimo de talento, tenho muito pouco tempo. A senhora sabe, o hospital… — É verdade, é que a gente sempre está precisando de novas vozes para o coral. Mas quando puder, apareça lá, veja os nossos ensaios. E assim que houver uma apresentação para o público, pode ter certeza que o convidarei. Sou também a maestrina, sabe? — Ah, sim, muito obrigado. Quando está se afastando, Rosa ainda pergunta: — Doutor, é rapidinho. Tem alguma notícia de Raul? — Raul Soares? A senhora o conhece? — Sim, este mesmo. Ele é m

PÁSSARO INCAUTO NA JANELA - CAPÍTULO IX

HOJE, TERÇA-FEIRA 09/02/2016, CONTINUAMOS O NOSSO FOLHETIM "PÁSSARO INCAUTO NA JANELA" COM O 9º CAPÍTULO . Capítulo 9 Susana temia demonstrar o caos que estava sua mente e em seu coração. Quantas vezes viera à clínica, quantas vezes entrara naquele quarto de reflexos nas paredes, um quarto despido de vida, de sensibilidade, de sensações. Um quarto nu. Entrou devagar, passos imprecisos, falseando o salto, como se obstáculos ocultos a impedissem de avançar, de se aproximar do homem que vivia distante, alienado, transbordando de dor e mágoa, ou apenas inerte, como uma poça dágua inatingível, escondida sob o alpendre, se deteriorando dia a dia. Estava lá, na cadeira isolada na sala branca, de sombras esparsas na parede, como se o sol de vez em quando aparecesse entre as nuvens e produzisse figuras que passeavam indiscretas, incontestes sem qualquer censura. Figuras que não significavam nada, apenas a solidão, a apatia, o desapego dos vivos. Ele a olhou co

O DOCE BORDADO AZUL - 22º CAPÍTULO

Hoje é quinta-feira. Nosso folhetim continua com o 22º capítulo. Na próxima terça, continuamos na sequência. Espero que gostem! Faltam 8 capítulos apenas!Vamos a ele! Capítulo XXII A visita de Gustavo Quando entrou, Gustavo imediatamente acomodou-se no sofá, observando atento os outros móveis. Percebeu que Bárbara sentara na lateral de um divã antigo, com as pernas finas enviesadas, uma colada na outra, de uma maneira que julgava elegante. Pensou em fazer um galanteio, mas calou-se. Ela poderia levar a mal, achando que havia algum interesse de sua parte, que não fosse o motivo por que viera até a sua casa. Bárbara, vez ou outra, virava o rosto para a janela, olhar perdido nos telhados cheios de musgos e plantas que se sobressaíam, cultivadas pela umidade das infiltrações. Ele achava-a uma moça estranha. Tinha uma certa tristeza solene, que não conseguia decifrar o motivo. Via em seus olhos uma dor inatingível, o que não lhe diminuia a beleza e simplicidade. Talvez pela