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A FAINA DA BRASA

Animais dão-se as mãos nas campinas verdes, que se espraiam olhar afora. Vozes que flutuam em zumbidos longínquos Homens se agrupam na prática eufórica. Quando eles chegam de mansinho, deixam os pastos repousar Deitam as arestas de seu sono e dormem em flores sem vicejar. Humanos acendem fogueiras Perpetuam fogos, parecem lutar por vitórias que chegam com os arreios e ferramentas que lá vão provar. No dia da desova das paixões Agitam-se, desesperados na rotina e animais afastam-se, em vão Da brasa que lhes cede a alma ferina. Homens violentam seus bordões Riem, na luta da guerra à vida Gritam, rudes, na faina da brasa A morte que chega, sem saída. Animais caem ao relento Esbaforidos, sedentos e sofridos Olhares perdidos nas vagas madrugadas que anseiam, mas que nada Se sonham, nem sabem decifrar A morte é certa, a berrar na brasa ardente escaldando as carnes O sangue transbordado na terra ferida A morte é certa, a berrar Homens dão as mãos nas c

A CINZA EM QUE ARDI

Sempre a vira expor-se de maneira ridícula. Pelo menos para os padrões da época. Tinha lá seus quase oitenta anos e se vestia como uma mulher de trinta. Um vestido godê preto, que ao vento lhe subia nos ombros, aos meus olhos espantados de 10 anos. Na boca, um batom vermelho delineando os lábios sumidos. Um sorriso largo, de dentes miúdos, com falhas inevitáveis. Gostava de sentir-se assim, livre e talvez a sensibilidade aflorada na pele revelasse apenas o desejo de felicidade. Uma brisa, um aroma, um sopro de vida. Todos ou quase todos a chamavam de louca. Ou senil. Ou velha destemperada. Não lhe permitiam explosões em seus pensamentos, nem alfinetadas nas ideias que não se constituíssem um dedal. Mentes torpes, endurecidas pelo hábito higiênico e padronizado da maioria. Eu, como criança, talvez a seguisse no que tinha de melhor. E o melhor eram os livros que me oferecia. Livros tão antigos quanto à coluna que se comprimia nas vértebras enferrujadas. Livros amarelecidos, capas andraj