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A CASA OBLÍQUA - CAPÍTULO XXIII

Clara não evitou as lágrimas, envolvida naquela situação que aos poucos se apoderava de sua vida, de uma maneira tão íntima, que lhe custava distinguir a sua história da de Dona Luisa. As suas vidas confundiam-se de tal forma, que imaginava ser a mesma história e que apenas os acontecimentos se sucediam em épocas diferentes. Talvez ela nem fosse Clara, mas a própria Luisa. Não bastasse aquele clandestino na sua casa e as peripécias que precisara enfrentar para acolhê-lo, agora as dificuldades se acumulavam, talvez conduzindo a um desfecho semelhante. Não sabia que rumo as coisas tomariam, mas devia esforçar-se para resgatar o verdadeiro amor, a felicidade que Dona Luisa tanto almejara. Por este motivo, faria tudo para encontrar a casa na praia. Pensando assim, vestiu-se com uma roupa leve, quase esportiva para pôr em prática o seu objetivo. Guardou os óculos de grau na bolsa, aplicou as lentes e maquiou-se como de hábito. Pegou também uma pequena valise e de óculos escuros, dirigiu-s

Loiralice, o Opala vermelho e o futebol

Eu e meu amigo Saulo inauguramos nosso desejo de assistir um grande jogo de futebol. Acostumados com os times pequenos de nossa cidade, assistir Grêmio e Corinthians era uma verdadeira odisseia. Uma marca em nossa carreira de torcedores, que na época, antes das desilusões derradeiras, éramos fanáticos. Saulo era um sujeito estranho. Gente boa, grande amigo, sempre disposto a apoiar em qualquer situação difícil, mas tinha uma conduta peculiar que  chamava à atenção. Eu não conseguia convencê-lo de que as suas atitudes eram inadequadas, pelo menos, pois sempre dava um jeito de dar outro rumo à conversa. Uma de suas extravagâncias, era a mania de interpretar papéis que destoavam de sua rotina. Se participávamos de uma reunião de jovens da igreja, ele demonstrava estar em êxtase, perdido nos trâmites iluminados do divino, ascendo à postura angelical, quase um santo. Mas quando estávamos juntos, toda a encenação se dissolvia e se transformava no jovem de classe média, com

Sonhos que jazem acordados

Fonte da ilustração: waldryano do site www.pixabay.com Olhar-se no espelho, meio dormindo, assim pela manhã e deparar-se com uma face nova, que não a sua, não é tão surpreendente assim. Acontece, às vezes, com qualquer mortal. Principalmente, se ele está completamente desiludido de seus sonhos. Aconteceu com Gustavo, certa vez. Olhou-se no espelho, demorado. Piscou um olho, a resposta simultânea assegurava que era ele. Mas tinha consigo, que alguma coisa estranha tinha acontecido naquela noite. Afinal, o mundo desandara a seus pés. Escrevera mil histórias, publicou algumas, contos, crônicas, artigos em revistas, até um romance, considerado o primogênito bem amado. Esperou afoito que acontecesse, que desabrochasse para as audiências, que o lessem sofregamente. Nada aconteceu. Nem um comentário, nem uma notícia boa, nem uma página de jornal. Tudo burocrático, organizado por ele e 10% pela editora. Como pensava que teria este vigor todo para tocar em frente, conquistar as plat