Há muitas coisas que nos chamam a atenção, quando participamos de redes sociais como o facebook, o twitter, o Snapchat, Instagram, entre outras. Por exemplo, há pessoas que conhecemos ou não e que compartilham assuntos de mesmo interesse, como no meu caso, a literatura, a política, filmes, músicas, ciências da informação, com ênfase em biblioteca, os livros enfim.
Não sou muito dado a bate-papo online, nem participar de redes de orações, discussões religiosas, jogos, nem muito menos expor coisas muito íntimas, como por exemplo, um beijo apaixonado em minha mulher (porque se já foi fotografado, por certo, feito alguma pose e publicado na rede) então, já este beijo não é tão espontâneo assim, é meio dramaturgia, não é mesmo? Claro, que ocorrem os flagrantes e isso é legal. Mas falo daqueles encontros arrumadinhos, tudo muito certinho e o beijo tascado de forma cinematográfica. Ah, isso é engraçado.
Há coisas intimas também, como um jantar em família, na alegria em estar com a família num passeio ou ou viagem. Acho saudável, claro respeitando os limites da soberba e da ostentação. Mas não estou aqui para julgar ninguém, muito menos para criticar os inúmeros integrantes das redes sociais, inclusive os meus amigos.
Por outro lado, sei que no dia a dia, quando topo com uma pessoa com dificuldades físicas, e às vezes, um certo atraso em demonstrar o que desejam expressar, fico um pouco impaciente. É um defeito meu, é claro, já que devia ser mais tolerante, principalmente porque todos, sem excessão, inclusive eu, somos cheios de dificuldades, ou psíquicas, ou em virtude da idade avançada, ou da pouca idade, ou dos comportamentos rígidos assimilados, das inseguranças, ou mesmo da arrogância, da autoestima exacerbada, da intolerância, enfim, todos temos algum tipo de inquietude em relação aos valores e atitudes dos demais. Ninguém é perfeito.
De todo modo, está claro que não sou paciente, mas também não sou intolerante. Sou uma pessoa que espera, espera que a outra mostre a que chegou, e sem nenhuma superioridade interior, tentar me aproximar e ser o mais natural possível. Não quero exercer o papel de juiz, nem professor ou qualquer personagem investido de poder e segurança para mostrar quem é o melhor. Desta forma, evito demonstrar minha impaciência e respeitar o tempo e o limite do outro.
Falo isso, porque fico me perguntando sobre uma pessoa que vem a minha casa, pelo menos uma vez no ano, nos verões, quando vem ao Cassino.
Na verdade, eu o conheci através de outras pessoas, e nem tinha motivo de ser seu amigo, apenas procurava ser gentil e educado nos poucos encontros que tivemos em comum com outros conhecidos. Via de regra, vem no meu aniversário, mesmo que não seja convidado. Não reclamo, já acostumei com sua presença e sei o quanto é sincero. Uma vez ao ano, quando vem também me convida (eu e minha família, para um churrasco especial, que faz somente para nós). Fico pensando no motivo de tanto desvelo, uma vez que não é meu parente e a amizade, para ser sincero, começou quase em via única, do lado dele, porque para ele, parece que há um lastro que consolidava uma amizade eterna. Não que eu o dispense, ao contrário, sempre o trato com a maior sinceridade e gentileza, mas somos pessoas tão diferentes, que se torna extremamente difícil uma conversa entre pessoas com objetivos tão distintos. Se eu fosse um cara extrovertido, talvez ele tivesse motivos para me procurar.
Ao contrário, sou meio quieto, e essa característica se acentua em virtude das dificuldades em que ele apresenta em desenvolver os assuntos. Jamais poderia falar nos temas que me interessam com ele, pois somente concordaria com um ãh ãh absorto, provavelmente olhando ao longe, perdidos em seus pensamentos.
Via de regra, seus assuntos prediletos referem-se ao celular de última geração que acabou de comprar, do carro ano 95 que está tinindo de novo, do último DVD da banda de pagode, das fotos dos sobrinhos, dos passeios que faz na praia e do exame destes assuntos meia hora depois, repetindo tudo de novo. O interessante é que ele sabe de cor qualquer dia do ano em que tenha feito uma compra, como por exemplo comprou um aparelho toca-discos 2 em 1, com prato para LP, toca-fitas e rádio am fm, nas Lojas Colombo, no dia 19 de abril de 1988, dia do Índio. Ou a TV preto e branco de 21 polegadas, da marca Philco nas lojas Manlec, em 1982, no dia dos namorados.
Por isso, não esquece jamais as datas de aniversário, inclusive, a minha (e olha que não havia facebook, quando o conheci).
Acabo, ficando na estratégia de perguntar em círculos sempre a mesma coisa, que lhe diga respeito e intervir com um detalhe ou outro sobre mim, que também possa sugerir algo referente a ele.
Por isso, indago a mim mesmo e aos que me conhecem, por que ele sempre me procura com esta absoluta sinceridade, que embora apresente um certo egocentrismo, sempre procura me agradar de uma maneira ou de outra, ora convidando para um churrasco, ora trazendo as fotos que tirou num dos aniversários para mostrar, ora trazendo um DVD para assistir, mesmo que não seja o meu gênero preferido, mas que imagina, com convicção infantil, que me alegrará sobremaneira.
Por estas e por outras, sem querer propalar meus bons sentimentos, talvez seja exatamente isso, essa maneira honesta de ser, sem vislumbrar meus interesses pessoais, sem me importar com as horas que vão naquele mate de vai e vem, sem ouvir muito mais do que o silêncio.
Talvez seja um ato de doação. Mas não é só pra ele, é para mim também, no momento em que me dispo um pouco do que sou e fico mais próximo do ser humano. Afinal, ser amigo também é uma qualidade humana. Acho que é isso. Não ter muita paciência e às vezes, até procurar, disfarçado, as horas no celular, ocorre sim, mas a diferença é que o aceito como é.
Muitos que o conhecem, o tratam como um idiota, como uma criança a quem se dá ordens e se exige pouco para não encher o saco.
Pelo contrário, procuro sempre ressaltar as suas qualidades, incentivá-lo a melhorar em seus projetos, talvez medíocres para a maioria das pessoas, mas que para ele, são grandiosos, como tirar a carteira de motorista para dirigir o carro que comprou.
Não lhe dou conselhos nem faço ressalvas em suas atitudes. Ouço o que tem a dizer e dou a minha opinião, sem muitas reservas. Procuro falar das coisas que lhe dizem respeito, e acrescentar-lhes um frescor que normalmente não teriam, por mais simples e banais que possam parecer. São coisas suas. É a sua vida. Por isso, acho que intui uma certa cumplicidade com a sua percepção de vida.
Mas voltando às redes sociais, como no início da crônica, observo que algumas pessoas que conheço (ou assim acredito) demonstram qualidades completamente estranhas em seus seus perfis públicos, a ponto de pensarmos que se trata de outra pessoa completamente diferente.
E fico me perguntando, será que eu estou equivocado? Que elas são exatamente como aparecem na rede e que na vida real não passam de um produto de minha imaginação? Nem sei se há uma intenção de exibirem uma personagem diferente ou se acreditam que a persona que criam é a sua realidade interna. Quem sabe, uma inspiração para uma vida melhor? Um upgrade de mais qualidade?
Afinal, todos somos enigmas, até mesmo para nós mesmos. Temos cavernas escuras em nossas mentes que não mostramos para ninguém, até mesmo para nós mesmos. E o quando o fazemos, tomamos um choque e juramos de pés juntos que foi tudo um sonho. Que é obra do destino ou da manipulação do terapeuta.
Entretanto, afundado em minhas próprias cavernas e a cada dia, tirando um pé, pra chegar no claridade do dia, procuro mostrar minhas preferências, sem me preocupar muito com a aprovação alheia. Claro que fico muito satisfeito que curtam e comentem o que publico, mas fico feliz com opiniões diferentes das minhas, pois ao declararem, estes estão sendo sinceros, como sou com aquele amigo, sem quererem me agradar simplesmente. Neste caso, a discussão proporciona um pluralismo de ideias interessante. Mostro claramente que sou de esquerda, mais especificamente socialista, que assumi de acordo com minha visão de mundo, dos valores que apreendi.
Afinal, como diz Cazuza, todos precisam de uma ideologia pra viver. E cada um tem a sua. Que bom que seja assim.
Respeito os que pensam diferente, critico, discuto e aceito as críticas. Há casos, afinal, sou humano, que procuro ocultar as publicações alheias e comentários, pois para a boçalidade, não há argumento.
Por outro lado, exerço o meu gosto pela literatura e faço da escrita o meu ritual diário. Também adoro viajar e de vez enquanto, publico alguma coisa que lembre as viagens que participo. Cenas que considero curiosas ou bonitas. Também falo alguma coisa em música e os que virem meu perfil, percebem que gosto muito do Chico e que procuro assistir seus shows. Além disso, gosto de filmes, principalmente os que tem conteúdo dramático e faço algumas resenhas nos meus blogs. Falo um pouco em espiritualidade e para isso, devo estar focado numa emoção religiosa para expressar alguma coisa, porque prefiro não repassar nada em que não acredite.
Às vezes, sinto que sou um chato, porque insisto em alguns assuntos, como o horror à ditadura e por isso, sou muito cobrado e criticado. Mas tudo bem, se não me mostro como sou na realidade, pelo menos não douro a pílula, me mostrando um santo no altar do facebook.
Por isso, fiquei pensando neste meu amigo, cujas dificuldades físicas e neurológicas, não o impedem de exercer as suas tarefas com muita competência. Nesta pessoa que confia em mim, e que tento ser paciente, aceitando-o como é.
Em razão disso, lembrei de um livro que a maioria dos adolescentes de gerações passadas leram: "O pequeno príncipe" de Saint-exupéry. Quando o li, me impressionou o modo como o autor descrevia as relações humanas sob imagens metafóricas, através da raposa, da rosa, do príncipe de outro planeta, do geógrafo, do bêbado. São pessoas em absoluta solidão, que finalmente se deparam com o sentimento, assim despertado pela raposa, que diz ao menino, a frase tocante, que expressa o real significado da vida. "Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer”.
Através desta lembrança, tive um pequeno insight, que não é nada original, mas que centenas de pessoas já devem ter experienciado em nas suas relações com o próximo. Todos querem ser cativados, de alguma maneira. Na redes sociais, nas festas, nos encontros, no dia a dia, até mesmo nas relações quase imperceptíveis do comércio, onde estamos via de regra preocupados com o produto e o comerciante com a própria venda.
A raposa queria ser cativada. E o que fazer, perguntou o Pequeno Príncipe. "Você deve ser muito paciente. Eu não preciso de ti.Tu não precisas de mim. Mas, se tu me cativares, e se eu te cativar…ambos precisaremos um do outro. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Saint-Exupéry sabia dessas coisas. É só preciso paciência.
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