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A CASA OBLÍQUA - CAP. XXVIII

Luisa esperou atenta, sentada num banco de madeira. Nada a fazia voltar atrás, nem a demora que a sujeitavam, numa tentativa de confundi-la e fazê-la desistir.

Uma parede envidraçada a separava das máquinas de escrever, dos policiais ao telefone, dando ou recebendo ordens, misturando a fumaça de seus cigarros no ambiente. Às vezes, a olhavam atônitos. Sacudiam a cabeça. Conversavam entre si.

Ela desabotoava o fecho da bolsa, procurando uma caneta e um pedaço de papel. Escreveu o telefone da família, seu nome completo, para uma provável comunicação. Precisava tomar alguma atitude, mas não podia comprometer seu pai. Devia imputar toda a culpa em si, de forma que seus argumentos fossem bem convincentes para evitar qualquer envolvimento.

O telefone tocava insistente num gabinete. Um rapaz saiu do compartimento maior, atravessou a sala onde ela se encontrava e entrou no cômodo onde se ouvia o tilintar do aparelho.

Ela estava com as mãos frias e suadas. Tirou o chapéu, descobrindo os cabelos castanhos, envoltos num coque discreto. Largou-o sobre o banco.

Um homem gordo, de calças claras e suspensórios entrou na sala em que se encontrava. Quando o rapaz voltou do atendimento ao telefone, o homem chamou-o e falou-lhe alguma coisa ao ouvido.

O rapaz correu ao gabinete do delegado, anunciando a presença. Ele entrou, agradecido.

Luisa levantou-se indignada, mas logo aquietou-se. Não estava em condições de se rebelar contra nada.

O rapaz passou por ela novamente e perguntou-lhe de quem se tratava o tal homem. Ele Informou que era um político.

Luisa suspirou, desolada.

Perguntou-lhe ainda onde ficava a toalete. Com a indicação, dirigiu-se ao final do corredor de ladrilhos escuros e entrou rapidamente, impedindo as lágrimas. Sozinha, em frente ao espelho, desabou. Não conseguia conter o choro.

O homem que amava estava confinado numa cela fria, ao lado de outros prisioneiros, sem poder tomar sol, sem respirar o ar puro, sem poder vê-la. Lavou o rosto, enxugou-o com o lenço que trazia na bolsa, retocou levemente a maquiagem. Respirou fundo e saiu, voltando para o banco de madeira em que se encontrava.

Quando chegou, para sua surpresa, um policial a esperava, para levá-la até o delegado.

Ela entrou na sala, fingindo segurança, sendo convidada a sentar-se na cadeira em frente à mesa.

Não disse nada. Esperou o interrogatório.

O homem esfregava as mãos, com a camisa arregaçada, deixando-se ver um imenso relógio suíço. Tinha olhos afundados em olheiras imensas. Vez que outra, ensaiava um olhar pelas paredes, pelos retratos, como se temesse encarar a interlocutora.

— Então a senhorita é filha do Senhor Lucas Sampaio, o funcionário do Banco do Brasil.

Luisa estremeceu a voz. Queria começar o assunto de outra maneira, mas foi impossível.

— Sim, ele é meu pai.

— E sua mãe é Dona Moema Sampaio. A senhora que registrou a fuga do clandestino.

Um arrepio percorreu-lhe o corpo, pois desconhecia a história que sua mãe contara e temia piorar ainda mais a situação.

— Sim, mas eu vim aqui para esclarecer tudo o que aconteceu em relação ao senhor Saymon Slavicek.

— O que a senhorita pode esclarecer sobre esta história? Para nós, tudo está muito claro e já estamos tomando as devidas providências.

— Providências?

— Não vamos entrar em detalhes. Só não estou entendendo o seu interesse nisto.

— Eu preciso ...

— Senhorita, desculpe interrompê-la, mas acho melhor voltar para casa e esquecer esta história. Não é um acontecimento nada edificante para encher a cabecinha de moças da sua idade. Quem sabe o seu pai vem aqui prestar esclarecimentos, ele é um homem responsável, maduro.

Luisa replicou:

— Eu preciso que o senhor me ouça. Eu quero dar o meu depoimento.

Ele se mostrava renitente.

— Nada que diga vai mudar a situação daquele homem. Ele está irremediavelmente comprometido.

— Como assim?

— Ele é um criminoso. Um foragido de guerra. Tem que ser deportado imediatamente.

— Mas ele não cometeu crime algum. O Brasil não pode deportar um soldado que está contra os nazistas.

— Não se meta em política, moça. Isso não é coisa de mulher! – Alertou, irritado.

Luisa, entretanto, prosseguiu segura:

— Talvez o senhor não saiba, mas ele fugiu para não ser trucidado pelos nazistas. A aldeia de sua família foi praticamente varrida do mapa. Ele lutava pela resistência tcheca.

O delegado silenciou, intrigado. Levantou-se da cadeira e fechou a porta, sigiloso. Abaixou a cabeça em sua direção, coagindo-a.

— Como é que a senhorita sabe de tudo isso?

— Porque eu o ajudei a fugir, eu o salvei.

— Como assim?

— Eu vou lhe contar tudo, desde o início. O senhor só precisa ter paciência comigo e confiar no que vou lhe contar.

Ele volta a sentar-se a sua frente. Desenha alguma coisa com um lápis, pensativo. Questiona:

— Mas então o caso de muda de figura. Sua mãe disse que ele invadiu a casa.

Luisa empalidece. Sua mãe inventara uma história para salvar a família. Ponderou por alguns segundos, perguntando-se se tinha o direito de arriscar a vida profissional do pai, de envolvê-lo naquela trama. Por outro lado, atribuiria toda a culpa a si própria, explicaria que ela tinha sido a única criminosa, se a sua solidariedade com um sobrevivente ferido e atirado ao mar fosse considerada crime.

— Pois se a coisa não foi bem assim, precisamos apurar as responsabilidades.

— A responsabilidade é somente minha, delegado.

— Entretanto, sua mãe nos afirmou que ele invadiu a casa e estava armado. Colocou todos no porão, inclusive ameaçou matá-la. Temia até que ele, desculpe a palavra, a estuprasse.

— Não é verdade, mamãe está muito perturbada com o desaparecimento de meu irmão. Ela está confundindo os fatos.

— Desaparecimento? Como assim? Ele não esta lá na Itália, na guerra?

— Sim, mas desapareceu. Não sabem o que aconteceu com ele. Depois que ela soube disso, ela não está no seu juízo normal.

Ele aquietou-se, sem dizer nada. Ficou observando-a de canto de olho.

Luisa perguntou se poderia começar.

Ele a encarou por um segundo apenas. Desviou o olhar para a mesa e acenou afirmativamente.

Luisa narrou todos os acontecimentos como se desenrolaram desde o início.

******

Clara pegou a bolsa vermelha, encheu-a com os papéis encontrados na casa da praia, bem como a chave e afastou-se do apartamento.

Olhou para os lados, verificando se não havia algum morador pelas redondezas. Ouviu o barulho do elevador e escondeu-se sob a escada, descendo rápida, alguns degraus. O elevador prosseguiu, afastando-se de seu andar. Então, subiu os degraus novamente e dirigiu-se para o apartamento ao lado.

Empurrou a porta que sabia estar apenas encostada.

Entrou, tateou pelo interruptor e ligou a luz.

Aquelas paredes envelhecidas já não lhe pareciam tão desgastadas e abandonadas. Havia uma vida latente, uma sensação de beleza antiga que iluminava o caminho. Era um sentimento bom, prazeroso.

Ela sentia-se renovada, pois era a proprietária de tudo aquilo.

Ali sonhara com o seu amor, durante tantos anos.

Ali construíra um passado em sua mente, que não se desbotava como as paredes, mas que se avivava, se tornava cada dia mais cheio de matizes, de pormenores tão íntimos e verdadeiros.

Sentou-se na poltrona e observou ao redor. Percebeu na parede, a velha estante de livros, mais adiante o móvel com o espelho bisotê e imaginou que talvez estivesse ali, a sua frente, o tal caderno que procurava.

Por que não pensara nisto antes? Levantou-se num salto e correu até o consolo, abrindo rapidamente a gaveta. Esta emperrou, como se alguma coisa a travasse por dentro. Puxou com força, amassando papéis e documentos que se amontoavam em embrulhos. Enfiou a mão no fundo da gaveta, retirando a papelada que se deslocava de um lado para o outro e o encontrou. Seus olhos iluminaram-se. Puxou-o com cuidado examinou a capa preta, passando a mão com suavidade. Colocou-o sobre o móvel e o abriu.

Eram cartas em língua estrangeira, provavelmente em tcheco, reunidas em envelopes, fixados nas páginas. Cartas de amor. Também havia as cartas de Luisa, organizadas no mesmo estilo. Clara irava as páginas, afoita. Nas últimas, ela encontrou uma espécie de diário e começou a lê-lo com atenção.

Por momentos, ela chorava, emotiva.

O mundo parecia ficar pequeno demais, impedindo-a de respirar, tal como acontecera à Luisa.

Foram apertando o cerco, enfurnando-a em brechas cada vez mais estreitas.

Era assim que Luisa descrevia as vicissitudes por que passava.

“Em dado momento, ocorreu a caça às bruxas. Começaram a investigar todo o mundo, principalmente meu pai, que foi incluído num processo administrativo, além de ser acusado de acobertar um desertor estrangeiro em casa.

Nada do que eu dissera ao delegado teve qualquer ressonância positiva no inquérito. Apenas confirmara a história de envolvimento de meu pai, porque aceitara com benevolência o apoio ao estrangeiro.

Minha mãe se alienara da vida. Para ela, tudo se resumia em arrumar demoradamente aquele porão, esperando que o filho voltasse um dia.

Eu não conseguia ver Saymon e as coisas pioravam dia a dia e com o decorrer do tempo, a gravidez dava sinais em meu corpo.

Meu pai era um homem derrotado, envergonhado por minha situação.

Eu me sentia a pior das mulheres.

Um dia, porém, tivemos uma boa notícia e apesar de todo o sofrimento, meu pai parecia um novo homem. Havia no seu olhar, até no seu modo de caminhar, uma certa alegria, como se a felicidade instantânea se instalasse em sua vida.”

Lucas repetia o gesto involuntário de passar a mão pelos fios ralos de cabelo, lustrando a calvície oleosa. O suor ensopava-lhe o rosto, a camisa sob o colete, as mãos.

Atravessou a sala de estar à procura de Moema, dirigindo-se em seguida para a cozinha. Sabia que estava no porão, como de hábito.

Passou às pressas, pelo quarto de Luisa, que não teve coragem de encará-lo, esperando ansiosa por alguma notícia de Saymon, mas sem fazer perguntas. Sabia o quanto tinha atingido o pai, no seus brios de homem de família e o muito que ele sofria por sua causa.

Ele adiantou-se, deu mais alguns passos e parou, indeciso. Entretanto, voltou-se e a fitou, detendo o olhar atencioso que sempre lhe dedicara.

Luisa suspirou. Sentia-se recompensada pela presença do pai e seu olhar acolhedor, mesmo que por alguns instantes.

Ele continuou olhando-a e ao contrário do que pensava, não se afastou. Ao contrário, aproximou-se e disse-lhe, com um sorriso nos lábios, quase em segredo:

— Luisa, enfim uma boa notícia.

Com as as palavras tomadas pelae emoção, Lucas prosseguiu, com dificuldade.

— Seu irmão foi encontrado.

Luisa num salto, abraçou-o. Ele sorriu, pouco à vontade, respondendo as perguntas que fazia sem cessar.

Júlio tivera um distúrbio psicológico, talvez uma espécie de amnésia, já que não reconhecia onde estava. Fugiu do acampamento e foi parar numa pequena aldeia. Andou várias léguas para chegar até lá. Tinha ferimentos espalhados pelo corpo, adquiridos pelos caminhos íngremes de pedra, que teve que percorrer, pelas mordidas de insetos, pelo dormir ao relento. Esteve a ponto de morrer com pneumonia, mas foi tratado por uma família que o acolheu.

Luisa imediatamente pensou que a história se repetia.

Sentia-se agora mais forte para lutar, vencer as dificuldades e voltar para o homem que amava.

Quanto à mãe, sabia que logo que o irmão voltasse, ela mudaria o comportamento, quem sabe até a ajudaria.

Foi com esta esperança, que aguardou ansiosa pelo pai descer as escadas do porão para contar a notícia.

Moema, desta vez, estava envolvida numa faxina mais ampla. De joelhos, a saia levantada, esfregava o piso áspero do porão, com dedicação extrema. Um balde ao lado, um trapo que encharcava na água, torcia e lavava o piso.

Quando o marido narrou todos os fatos, apenas voltou a cabeça, olhando-o com inexplicável indiferença.

Voltou à labuta, sem dizer nada.

Lucas a repreendeu:

— Moema, você não se alegra? Seu filho está voltando!

Ela sorriu de um modo insano. Resmungou alguma coisa inaudível e prosseguiu na tarefa, esfregando o chão com tal fúria que feria as mãos.

Lucas subiu as escadas, melancólico, enquanto Luisa observara tudo, acompanhando a desilusão do pai.

Ele a chamou para conversarem sobre o assunto. Tinha necessidade de falar, de contar todos os acontecimentos tal como soubera. Além disso, havia a inabilidade da esposa em entender o que se passava. Cada vez mais distante, vivendo num mundo singular, só seu.

Luisa achava que a mãe precisava da ajuda de um médico, sua saúde mental definhava, deixando-a frágil e deprimida.

Ficaram assim, conversando durante muito tempo, até Lucas tocar na chaga que tanto a afligia: o destino de Saymon.

Luisa iniciou uma espécie de mea-culpa, mas ele a interrompeu, pois deviam discutir o assunto sem ressalvas, nem ressentimentos. Não havia culpados ou inocentes. Ele também havia errado, por ter permitido que cometesse aquela loucura de ter acudido o estrangeiro, por não ter sido severo o suficiente e acabar concordando com a situação.

Luisa o fitava, confusa.

— Então, o que o senhor pretende fazer?

— Até este momento, o doutor Pimentel impediu a denúncia de ocultação do clandestino, ainda mais, sendo ele um foragido de guerra. Apelou para um ato de solidariedade, de alguém que desconhecia a origem do estranho, que atendeu um pedido de socorro. Esta é a defesa de Pimentel. Quanto ao processo administrativo, para este não há nada a fazer. Só aguardar o desfecho.

Luisa abaixou a cabeça, culpada, mas o pai prosseguia, esclarecendo conforme o advogado lhe explicara:

– Mas há um elemento forte nesta história, a guerra está acabando e se os nazistas forem derrotados, como as previsões, não há muito o que fazer com este rapaz, a não ser mandá-lo de volta para a terra dele. Ele será repatriado, sem dúvida.

Luisa mostrou-se desapontada. Seria a última coisa a acontecer. Seus olhos encheram-se de lágrimas.

— Eu não vou abandonar você, principalmente agora... – Na verdade, Lucas não conseguia aceitar, nem perdoar o relacionamento irresponsável da filha. Sentia-se traído de algum modo.

Luisa atreveu-se a perguntar:

— Não há esperanças?

Lucas acenou a cabeça, em silêncio.

Ela levantou-se, tentando afastar-se e fazer alguma coisa, mas o pai a impediu:

— Luisa. Não faça outra loucura, por Deus!

— Eu não sei do que sou capaz, meu pai. Estou desesperada.

— O doutor Pimentel está estudando a situação. Ele vai apelar para as leis de imigração brasileiras. Talvez haja uma saída.

— Que saída meu pai? A fronteira? É a única saída para Saymon. E se os nazistas o pegarem, ele será fuzilado.

Lucas pensou um minuto. Havia alguma coisa a mais, que se recusava a falar, mas não podia deixá-la naquela aflição.

— Se ele tiver um vínculo aqui, no Brasil.

— Isto é impossível. O senhor sabe.

Não conseguindo se conter, disparou convicto:

— Talvez se vocês casassem...

Os olhos de Luisa revelaram uma infinita alegria, um sentimento há tanto esquecido.

— Papai! Por que não falou isso antes?

— Bem, eu não tenho certeza de nada. Do julgamento ele não escapa, mas o Doutor Pimentel aventou esta possibilidade. Até o final do ano, chegará um representante do consulado da Tchecoslováquia até a carceragem da Polícia Federal para identificar este soldado.

— Mas então, precisamos agir rápido.

— Agir você quer dizer, casar?

Pela primeira vez Luisa sorriu. Abraçou o pai.

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