No capítulo anterior, na reunião de Santa com a família, Alfredo assumiu que era gay, o que todos sabiam e comentavam entre si, mas usavam a hipocrisia para disfarçar a desaprovação. Por outro lado, surgiu a revelação do bispo Martim, amigo da família, que contara sobre um relacionamento que tivera no passado com a mãe de Sandoval. Mas o pior ainda estava por vir, pois faltava a revelação de Linda, a empregada que trabalhava há muitos anos para a família. A seguir o 8º capítulo de nosso folhetim dramático.
Capítulo 8
Fonte da ilustração: https://pixabay.com/pt/crianças-homem-face-raiva-660219/por Geralt
Linda não tem nada a ver com esta história, não se preocupem. Mas ela tem também a sua história – responde Santa, aliviada pela revelação do bispo.
Sandoval revela-se cada vez mais ansioso, percebendo que a mulher está satisfeita com a situação:
— Acho uma palhaçada envolver a Linda nesta loucura, Santa. Deixe a moça em paz, mande-a de volta ao trabalho.
— Por que Sandoval? O que você teme do que Linda tem a dizer? – indaga a mulher, com ironia.
— Eu não temo nada. Aliás, a minha vida foi bem devassada, você disse que eu sou um desregrado, que vivo em jogatinas. O que mais você quer de mim? Por que não acaba com esta loucura, Santa, já está indo longe demais!
Alfredo, porém, toma a liderança, pretendendo saber mais, ir até o fim.
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— Muito bem, pessoal. Isto está ficando interessante. Temos um mulherengo entre nós, que junto com a esposa não quer ter filhos. Ela, em virtude da profissão e ele, não sabemos. Temos também um artista que não vai a lugar nenhum e que mamãe quer conduzi-lo ao bom caminho, do capital e da competição, temos um jogador profissional, um bispo que transou com a minha avó…
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— Alfredo, pare, você está sendo cruel!
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— Não, mamãe, estou sendo realista. Só para terminar, temos também um gay que não saiu do armário, que sou eu. E você Linda, o que tem a dizer-nos?
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— Linda, se você quiser, pode sair. Não é obrigada a nada – arrisca, Sandoval, numa última tentativa.
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— Não, seu Sandoval. Agora faço questão de contar a verdade. Eu também não aguento segurar essa barra. Bom, gente, eu tenho um filho doente, com problema de …
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— Que desatino essa história, não nos interessa – exclama Sandoval, exasperado.
Faz-se um silêncio que parecia ser perene. Todos aguardam o que Linda tem a dizer.
De repente, Sandoval deu um grito, pedindo ajuda. Senta-se na cadeira, segurando o peito e queixando de uma forte dor, achando que estava tendo um infarto.
Todos correm ao seu encontro e ele desequilibra-se, dando a impressão que desmaiará. Alfredo então o segura, pedindo que Linda chame o medico ou uma ambulância. Ele ainda diz que não precisa de ambulância, apenas o Dr. Oliveira, amigo da família é suficiente.
Tavinho observa a cena do outro lado da sala.
Algum tempo depois, Sandoval olha em torno, já em seu quarto. Uma atmosfera singular. Um silêncio precavido. Tudo parece à espreita, para ele. Até mesmo o olhar assustado de Santa assume uma acusação que o deixa aniquilado.
Ela o ajuda levantar-se, enquanto ele pergunta pelos demais.
— Pedi que saíssem, já que não se sentia bem.
— Foi uma dor terrível no peito, Santa, achei que ia enfartar.
Santa pede que o marido apenas reflita sobre o que o médico dissera. Seu mal súbito não passava de uma forte pressão emocional.
— Você não parece muito feliz com isso. Gostaria que eu estivesse morto?
— Não diga bobagens, Sandoval. Só acho que você encenou um pouco. Afinal, conseguiu acabar com a reunião.
— Como pode pensar uma coisa dessas de mim, Santa? Já não basta o que você me fez passar? Aliás, não apenas eu, mas todos nesta casa. Até mesmo o seu próprio filho, Alfredo, foi humilhado.
— Na verdade, Sandoval, ninguém gostou do que ouviu. Uma pena que Linda não pode esclarecer a sua mensagem.
— Não me fale nesta mulher. Você exagerou trazendo esta empregada para a reunião. O que você está pretendendo, afinal, acabar com a família?
— Por que você tem tanto medo da revelação de Linda?
— Porque ela quer tirar partido da situação, eu percebi bem a intenção dela, atrás daquela cara de sonsa, ela quer fazer chantagem. Conheço muito bem este tipo de gente!
— Como chantagem? Fui eu que coloquei a mensagem e sei muito bem o porquê.
— Pois se você sabe, por que me crucifica desse jeito?
Santa desvia o olhar, absorta no próprio discurso. Quando começa a falar, sua voz soa amarga e melancólica.
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— Eu sei, mas todos deviam saber da mesma forma, deviam sofrer como eu sofri durante toda a minha vida.
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— Então é uma vingança! – Sandoval grita, indignado.
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— Não, não é uma vingança. É uma maneira de vocês se emendarem, de transformarem as suas vidas. Você deveria dar o exemplo, assumir a sua culpa e se redimir.
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— Eu? você me atirando às feras, dizendo que sou um jogador...
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Eu não disse nenhuma inverdade, mesmo porque a sua culpa não se resume nisso, implica outras pessoas – e desabafa, com a voz embargada – você sabe muito bem o que Linda pretendia falar.
Sandoval senta-se na cama e encara a mulher com súplica. Sabe que deve mudar a estratégia. Santa está decidida e ele precisa um tempo para que a poeira assente.
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Eu sei,.. você sabe... querida, vamos esquecer esta história, afinal, são coisas do passado. Como você deixou bem claro, ninguém é santo, aqui. Eu cometi erros, como todo mundo, erros sem dúvida, que fizeram você sofrer, mas agora, não é justo que todos soframos por coisas passadas. Coisas que não tem a menor importância. Eu já me redimi, vivo para a família, para você, para esta casa...Você sabe disso.
Santa que estava ao seu lado, levanta-se, afastando-se em direção à cômoda. De repente, aquele quarto não parece o seu e aquele homem, ali, tão próximo, é um estranho. Olha-o de longe, como se devesse manter uma distância regulamentar. Fala com frieza:
— Não, Sandoval, você vive para você mesmo. Você é um individualista. Todas as coisas aconteceram, porque você só pensou em você próprio, no seu prazer, na sua vida íntima. Você não se preocupou comigo, com os seus filhos. Mas já que você diz que se redimiu, só há uma maneira de você arcar com as consequências.
— Como assim? Você pretende reunir a família, novamente e me obrigar a contar tudo?
— Não, eu não. Você fará isso.
Desta vez, Sandoval extrapola toda a raiva contida. Na verdade, sente-se confuso, Santa tem a faculdade de lhe deixar assim, ansioso e com ódio ao mesmo tempo, deixando-o sem saída, querendo que resolva tudo a sua maneira.
— Você quer me enlouquecer, mulher? Você acha que vou me prestar a este papel ridículo? Olhe, na verdade, eu nem sei porque estou discutindo estas sandices com você. Acho que temos que parar aqui, agora. Estou farto dos seus caprichos. Você é uma mulher má, cruel, nem respeita a minha doença.
— Sandoval, eu fui bem clara. Não são caprichos. Se vocês não concordarem comigo, terei que reformular meu testamento e transformar a minha herança numa doação espontânea. Sairei desta casa, me dedicarei à comunidade carente e vocês terão o seu patrimônio dividido. É isso que você quer Sandoval?
— Mas com que sentido, meu Deus! O que adianta que façamos o que você deseja, se o mais importante, ajudar às pessoas necessitadas, fica de fora.
— Você realmente não entende nada, Sandoval. Para a Virgem, o mais importante é a redenção de vocês, da família, é a volta para a origem, para a vida cristã. De qualquer modo, eu atuarei nestas comunidades, apenas não disporei toda a minha fortuna nem deixarei a família. O que custa a você se humilhar uma vez na vida?
— Não, eu não posso fazer isso, é uma loucura.
Santa dá alguns passos em direção à porta. Volta-se para ele e acrescenta, enfática:
— Bem, se um de vocês não seguir o que foi solicitado na mensagem, nada feito. Eu terei que cumprir a minha missão. Pense nisso, Sandoval, antes de cometer qualquer desatino.
Bate a porta do quarto, enquanto ele põe as mãos na cabeça, sem saber o que pensar.
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— Meu Deus, meu Deus, que loucura! Preciso fazer alguma coisa para impedir que esta mulher leve toda a família à ruína!
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