No capítulo anterior, o detetive Júlio tomou informações com o médico Ricardo, que é acusado de matar uma jovem, que segundo o que dissera, se aproximara dele com uma intenção possessiva, a ponto de persegui-lo até mesmo no trabalho. O detetive também ficou sabendo que ela abandonara um presumível namorado, chamado Paulo, um mecânico da cidade, o qual tentara agredir o médico, mas que acabara entendendo que ele não era o culpado da situação. Por outro lado, havia uma jovem chamada Ana, de aproximadamente 14 anos que sabia alguma coisa sobre o crime. Júlio Ramirez então, prossegue a sua investigação no 11º capítulo a seguir. Divirtam-se com o nosso folhetim policial.
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Júlio voltou para o hotel. Quem diria que estaria novamente na ativa, depois de ter afirmado tantas vezes para si mesmo que este era um tempo passado. Depois do almoço, a tarde se alongava e ele precisava seguir a investigação. Detestava as tardes, detestava os dias que se prolongavam como os de hoje e só se sentia bem à noite. Esta sim, poderia levar mais tempo do que o normal, poderia se estender infinitamente.
Decidiu então dar uma volta perto do rio, quem sabe não descobriria algum fato novo, que a polícia não houvesse encontrado?
Pegou o carro e atravessou a cidade. Não demorou muito pela área limitada. Em seguida, passeava pelas margens do rio, que hoje parecia um pouco mais calmo. Um vento fino fazia parte do cenário. Olhou para a pequena ponte ao longe e percebeu que uma menina estava encostada no parapeito, falando ao celular. Aproximou-se e ficou por ali, pensando tratar-se de alguém conhecido. Quem sabe um parente de sua família. A menina parou de falar e o olhou, um pouco assustada.
– Você costuma andar por estas bandas? Não é perigoso? – Perguntou, mostrando-se confiável.
– Aqui todo mundo se conhece. – Ela respondeu, displicente. Olhava para longe, os olhos grandes fixos no nada. Ele insistiu:
– Mas eu por exemplo, cheguei agora na cidade.
– Eu sei quem é. O senhor é o detetive que nasceu aqui, não é?
Desta vez, ela o encarou com um sorriso irônico.
– Acho que você tem razão. todo mundo sabe tudo de todo mundo, nesta cidade.
– Isso é ruim?
– Tem os dois lados.
– Você então sabe o que aconteceu com a filha do farmacêutico.
– Sim, eu estava aqui quando ela deu um grito, depois desapareceu.
Júlio abriu mais os olhos, satisfeito e engatilhou a exclamação:
– Ah, foi você. Que coincidência!
– Não é não. Eu venho todos os dias aqui.
– Ah, sim.
– Gosto de ficar aqui. Daqui a pouco, meus amigos virão também.
– Então, você a ouviu gritar, pedir por socorro?
– Não, foi um grito de dor.
– E onde você estava naquele momento, quero dizer, bem aqui, na ponte?
– Não, estava do outro lado, na fronteira da cidade. Aqui é o quase o limite, sabia?
– E naquele momento, você viu alguém passar aqui, perto?
– Na hora do grito, não. Uns quinze minutos antes, eu vi um carro parar no outro lado do rio. Depois desceu um homem e caminhou por lá. Não demorou muito, porque não o vi mais.
– Você reconheceu este homem?
– Pelo carro, era o médico, o dr. Ricardo.
– Você o viu?
– Com certeza, não. Estava uma neblina forte. Naquela noite, era impossível identificar alguém. Até mesmo eu, se alguém me olhasse do outro lado da ponte, só veria um vulto.
– Poderia ser outra pessoa, a noite vinha caindo, estava com neblina, como você mesma diz, então como pode afirmar que era o médico?
– Não posso afirmar nada, mas sei que era ele, porque o carro era dele. Um conversível desses importados. Ninguém tem um carro desse porte aqui na cidade.
– Está bem, mas quer dizer que você ouviu o grito e a queda na água?
– Acho que sim. Na água não da pra ter certeza, era muito barulho, ali tem a correnteza, o senhor sabe.
–Alguns minutos mais tarde, você viu o corpo flutuar, é isso?
– Eu achei que era, mas ele sumiu, foi parar quase no outro distrito. Então corri pra pedir ajuda.
– Não viu alguém por perto?
– Sim, meus amigos que vinham chegando. Contei tudo para eles e fomos até o centro.
– Me diga uma coisa, quantos anos você tem?
–Vou fazer quinze.
– O que você faz com seus amigos neste lugar deserto, posso saber?
–O que o senhor acha que se pode fazer numa cidade que não acontece nada, que só tem velho?
– Eu imagino, mas quero ouvir de você… Afinal, há muito o que fazer, pensando bem…
– O senhor já fumou baseado?
Júlio calou-se. Estava respondido. Observou que Ana se afastava um pouco e averiguava uma mensagem do Whatsapp, provavelmente. Foi até a ponta da ponte e esperou o grupo que se aproximava. Largou a mochila no chão e voltou a encostar-se no parapeito.
Júlio decidiu voltar para o hotel. Na verdade, o seu interesse maior era seguir adiante, ir para o centro da cidade, procurar a oficina e tentar falar com Paulo, o namorado de Taís, a moça presumivelmente assassinada. Dirigiu pensativo, lembrando das palavras da menina. Afirmava com absoluta certeza de que era o médico que andava nas redondezas da ponte, mais precisamente do outro lado da margem do rio. Talvez tivesse um encontro com a morta, quem sabe seria o último, porque precisava acabar com aquela história de uma vez por todas, segundo o que informara. Para ele, aqueles encontros organizados por Taís não passavam de uma verdadeira perseguição. Mas havia muito a pensar sobre esta história toda. Havia mais um elemento, o tal namorado chamado Paulo que trabalhava numa oficina mecânica. Era com ele que devia falar e por isso, resolveu procura-lo, antes mesmo de chegar ao hotel. Não demorou muito e estava lá. Deixou o carro na frente do grande portão e entrou no ambiente meio escuro. Parecia um galpão velho.
Um homem barbudo aproximou-se.
– Seu carro está com problemas?
– Não. Ou melhor, ele anda engasgando sim. Não sei se é o frio desta cidade.
– Faz pouco que o senhor chegou aqui?
– Só três dias.
– Vamos dar uma olhada. Por favor, levanta o capô.
Júlio olhou a placa onde estava escrito “Oficina Silva”. Perguntou ao homem, enquanto abria o capô do carro.
– Você é o Silva?
–Sou um dos. Somos sócios e somos Silva os dois. E olhe que nem somos irmãos.
–Ah, é normal. Este sobrenome é muito comum. O seu sócio é o Paulo?
–O Paulo? Não, aquele é um pé de chinelo. É nosso ajudante, só.
–E ele não está?
– Não, precisou ir na capital. Vai ficar lá uns dois dias.
– E você sabe o que ele foi fazer lá?
O homem o olhou desconfiado. Júlio explicou-se.
– Desculpe, não me leve a mal. É que estou procurando pelo Paulo, preciso falar com ele e gostaria de saber se vai demorar.
– Como eu lhe disse, uns dois dias. Foi acertar uns documentos, coisas do tipo.
–Ah, que bom. E onde ele mora?
–Mora com a mãe, uma viúva. a mãe, ou amiga, sei lá. O caso dele é complicado. Fica no final da rua principal.
– Então é a rua do meu hotel. Mas por que você disse que o caso dele é complicado?
O barbudo não respondeu. Falava sobre o carro, como se quisesse livrar-se do cliente indesejado.
– Moço, não tem nada no seu carro. Deve ter sido o frio mesmo, agora tá tudo bem. A gasolina está passando direitinho.
–Ah, obrigado. Me diga, como é o nome da mãe do rapaz?
_ Rosa.
–Rosa, a maestrina? A moça da portaria do hotel?
– Olha aqui, meu amigo, não sei se é mãe, a gente chama assim, mas é problema dele. É melhor perguntar pra ele.
– Sim, claro, só queria saber se é a mesma mulher.
– Pode ter certeza de que é, mas como eu lhe disse, é problema deles, nem sei se é verdade o que dizem.
– E o que dizem?
– Não posso lhe dizer nada. Não é da minha conta. Como lhe disse, pergunte pra ele, quando voltar!
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